30 setembro 2017

Jornal da Madeira: «FILHO DE ANTÓNIO ARAGÃO APRESENTOU QUEIXA NO DIAP CONTRA PRESIDENTE DA CÂMARA DO FUNCHAL»


Jornal da Madeira
28 de Setembro de 2017

FILHO DE ANTÓNIO ARAGÃO APRESENTOU QUEIXA NO DIAP CONTRA PRESIDENTE DA CÂMARA DO FUNCHAL

Artigo | 28/09/2017 21:17

O advogado Marcos Aragão informou hoje a comunicação social que no dia 18 de setembro, apresentou uma denúncia formal ao Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) da Madeira, contra "o atual presidente da Câmara Municipal do Funchal e contra o proprietário da Leilões Mouraria".
Em causa, segundo aquele causídico, está uma "suspeita fundada e documentada da prática por ambos dos crimes públicos".
O advogado diz que esta denúncia "justifica-se pelo esgotamento de todas as tentativas para um acordo extrajudicial para a solução dos graves crimes perpetrados por ambos aqueles indivíduos contra o valiosíssimo espólio" de António Aragão [pai do denunciante].
Está em causa, segundo Marcos Aragão, "o não pagamento, por parte da Autarquia, do que devia pelo espólio que se apropriou ilegalmente". Já o dono da Leilões Mouraria é acusado de  ter "negociado e repartido criminosamente o espólio do dr. António Aragão" com o presidente da Autarquia funchalense.
"Entre estas muitas provas encontra-se o facto de uma conhecida leiloeira de Lisboa (a Cabral Moncada Leilões) ter já vendido, em Novembro passado, sem a nossa autorização nem conhecimento, três importantíssimas pinturas da autoria do Dr. António Aragão que integravam o respectivo Espólio na posse da Autarquia do Funchal, as quais foram vendidas ao desbarato (...)", diz o advogado.

19 setembro 2017

Diário de Notícias Madeira: «Marcos Aragão Correia apresenta queixa no DIAP contra Câmara do Funchal»

Diário de Notícias Madeira
19 de Setembro de 2017

Marcos Aragão Correia apresenta queixa no DIAP contra Câmara do Funchal

Em causa está o recuo no negócio para aquisição da colecção do pai, António Aragão


PAULA HENRIQUES / FUNCHAL / 19 SET 2017 / 09:05 H.

Marcos Aragão Correia informou ter apresentado no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) da Madeira uma denúncia formal por prática de crimes de corrupção contra o presidente da Câmara Municipal do Funchal, Paulo Cafôfo, e contra o leiloeiro Ricardo Silva, envolvido no leilão do espólio de António Aragão. Um diferendo opõe neste momento o filho do artista falecido em Agosto de 2008 à autarquia, que se tinha comprometido a adquirir parte da colecção do também historiador e poeta, o que acabou por não acontecer até ao momento porque o processo legalmente não estava claro, argumentou a autarquia em Junho do ano passado.

“A apresentação desta denúncia neste momento justifica-se pelo esgotamento de todas as tentativas para um acordo extrajudicial para a solução deste grave crime perpetrado por ambos aqueles indivíduos, por estarmos a nos aproximar do fim do mandato do Sr. presidente da Autarquia sem que, passados que foram mais de 2 anos e meio, a Autarquia tenha pago o que devia pelo espólio de que se apropriou ilegalmente, bem como por já se terem reunidos suficientes provas de que estamos perante a prática de crimes de corrupção, nas suas formas activa e passiva, cometidos pelo Sr. Paulo Cafôfo enquanto presidente da Câmara Municipal do Funchal, e pelo Sr. Ricardo Silva que com ele negociou e repartiu o espólio do meu falecido pai”, justifica o herdeiro. Marcos Aragão Correia acusa a Câmara de ter deixado vender através da leiloeira Cabral Moncada em Lisboa, em Novembro passado, “sem a minha autorização nem conhecimento, três importantíssimas pinturas da autoria do meu pai que integravam o respectivo espólio na posse da Autarquia do Funchal, as quais foram vendidas ao desbarato naquilo que consubstancia uma tentativa de se desfazerem das obras o mais rapidamente possível e a qualquer preço”.

No entanto, já em Junho a Câmara do Funchal tinha resolvido o contrato de compra da colecção de António Aragão e tinha colocado à disposição da leiloeira e indirectamente do herdeiro os 21 lotes que compunham o conjunto de peças do artista falecido em 2008, que se encontravam já na sua posse que seria adquirido por 166 mil euros. Deu-lhe inclusive um prazo de dez dias para levantar as obras que se entravam no Teatro Baltazar Dias, não se responsabilizando a partir daí pela perda ou deterioração dos mesmos.

Em causa estaria o facto de a Mouraria, representada por Ricardo Silva, não se encontrar regularmente constituída como sociedade comercial a operar nesta área e o facto de o documento particular que delegava a colecção à empresa, à qual a Câmara ia fazer a aquisição, ser um documento escrito à mão, assinado pelo proprietário do espólio, Marcos Aragão Correia, e Ricardo Aires, sem presença de notário ou reconhecimento de assinaturas.

O herdeiro ainda tentou que o negócio fosse tratado directamente consigo, mas a Câmara terá recusado, uma vez que o tinha ficado aprovado inicialmente foi a aquisição ao leiloeiro, que teria a propriedade temporária para venda.

A autarquia afirmou então que não estava colocada de parte a aquisição posterior, numa nova negociação depois de clarificada toda a situação. Marcos Aragão Correia não compreende a posição do executivo de Paulo Cafôfo, que acusou de má-fé. Diz ainda que a devolução é impossível porque Marcos Aragão Correia “não sabe nada sobre o que foi entregue” por Ricardo Silva à Câmara, “nem o estado em que se encontravam as obras à data da entrega”.

in Diário de Notícias Madeira, 19 de Setembro de 2017

10 agosto 2017

Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos


Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos

Por Arquitecto Rui Campos Matos, Presidente da Ordem dos Arquitectos - Madeira

in Diário de Notícias Madeira, 10 de Agosto de 2017


Eu dou graças a Deus por estar vivo e ainda ser capaz de amar esta cidade e todos os seus mistérios.

Em conversa recente com o meu amigo Duarte Mendonça, profundo conhecedor da vida devota e da história dos conventos madeirenses, fiquei a saber que António Aragão, em artigo publicado neste jornal nos anos 60 ou 70 do século passado, se terá referido à possibilidade de trazer à luz do dia a antiga Capela das Almas do já extinto e demolido Convento de São Francisco no Funchal. O convento ocupava, mais coisa menos coisa, o lugar onde hoje viceja o Jardim Municipal, e a dita capela, mais conhecida como “capela dos ossos”, seria em tudo aparentada com a famosa Capela dos Ossos do convento de São Francisco em Évora, um dos monumentos mais visitados pelos turistas que hoje procuram os calafrios da emoção mórbida....

A capela dos franciscanos funchalenses, de acordo com a abalizada opinião de António Aragão, teria sido uma cripta, isto é, uma catacumba sepulcral subjacente à igreja do convento. Tudo faria supor, portanto, que estando enterrada, teria escapado à demolição que, na segunda metade do século XIX, varreu definitivamente o convento de São Francisco da paisagem urbana do Funchal. Bastaria, portanto, proceder a algumas prospecções subterrâneas no Jardim Municipal para encontrar o velho carneiro, desentulhá-lo e trazer de novo, senão à luz do dia, pelo menos à luz de uma nova e feérica instalação eléctrica, as centenas de crânios e tíbias que lhe decoravam as paredes!

A reprodução desta capela dos ossos na litografia colorida da edição de 1806 de A Voyage to Cochichina de Sir John Barrow, um dos muitos botânicos e pintores que visitaram a Madeira em finais do século XVIII, não deixa lugar a dúvidas: a capela tinha todos os ingredientes para se tornar (como efectivamente, no século XIX, se tornou!), num extraordinário atractivo turístico. Abundam os regístos dos que a visitaram e se deixaram impressionar pelo tétrico espectáculo. Valerá a pena tentar encontrá-la e desenterrá-la? Eis a questão que aqui fica em aberto. Não sei. Sempre duvidei de tudo o que é feito para agradar a turista, ou “para inglês ver”, como diz a sabedoria popular e a veneração nua e crua dos despojos humanos tem qualquer coisa de obsceno.

A verdade, porém, é que foi contemplando uma caveira que o soturno Hamlet formulou a questão crucial do homem contemporâneo: ser ou não ser, to be or not to be, that is the question....Eu próprio, nestas suaves noites de Agosto do Funchal, em que os agrestes alíseos do aeroporto aqui chegam como uma carícia suave, sou tentado a declamar, teatralmente, em altos berros, da varanda do meu terceiro andar: to be or not to be! A frase ecoa nas vertentes das montanhas, reflecte-se nas lajes de betão do novo hotel Savoy, sobe ao sétimo céu, perde-se nos confins do oceano, e eu dou graças a Deus por estar vivo e ainda ser capaz de amar esta cidade e todos os seus mistérios.

Rui Campos Matos.


05 abril 2017

António Aragão recalled at the Electronic Literature Organization 2017 Conference, Festival and Exhibits (Oporto city)

The ELO (Electronic Literature Organization) is pleased to announce its 2017 Conference, Festival and Exhibits, to be held from July 18-22. The Conference is hosted by University Fernando Pessoa, Porto, and the Festival and Exhibits will be held in the center of the historic city of Porto, Portugal.

Titled «Electronic Literature: Affiliations, Communities, Translations», ELO'17 will welcome dialogues and untold histories of electronic literature, providing a space for discussion about what exchanges, negotiations, and movements we can track in the field of electronic literature.

The three threads (Affiliations, Communities, Translations) will weave through the Conference, Festival and Exhibits, structuring dialogue, debate, performances, presentations, and exhibits. The threads are meant as provocations, enabling constraints, and aim at forming a diagram of electronic literature today and expanding awareness of the history and diversity of the field.

Our goal is to contribute to displacing and re-situating accepted views and histories of electronic literature, in order to construct a larger and more expansive field, to map discontinuous textual relations across histories and forms, and to create productive and poetic apparatuses from unexpected combinations.

Affiliations

Electronic literature is trans-temporal. It has an untold history.

Topics: Multiple diachronic and genealogical perspectives on electronic literature, providing room for comparative studies; Untold archeologies and commerces between electronic literature and other expressive and material practices; Intermedia and ergodicity in Baroque poetry, futurism and dada; concretism, Videopoetry and Fluxus; Videoart and soundart; and how these expressive forms are recreated and transcoded in digital forms of literature; Early experiments in generative and combinatory literature; Performances mapping the aesthetic and material antecedents of electronic literature; Attention to remixing/re-coding of previous materials from the avant-gardes.

Communities

Electronic literature is global. It creates a forum where subjects in the global network act out and struggle over their location and situation.

Topics: Expanding our understanding of electronic literature communities and how literature is accounted for within diverse communities of practice; Case studies of individual communities as well as broader engagement with how communities form and develop, and how they interact with and create affinities with other communities; Comparative case studies: Artists’ books; Augmented and Virtual Reality; Perl poetry; Sound-video practitioners; ASCII art and Net.Art; Hacktivism/Activism; Memes and Fan Fiction cultures; Minecraft, Twine, Bots and Indie Gaming; kids' e-lit; and how these practices are connected to electronic literature. Performances engaging with the diversity of practices in electronic literature and affiliated communities, as well as their critical awareness of network aesthetics.

Translations

Electronic literature is an exchange between language and code. It contains many voices.

Topics: Electronic literature as translation in the broadest possible sense; Beyond interlinguistic translation: emulations, virtualizations, re-readings, and interpretations; Limits and specifics of the programmability of natural languages as a means of literary expression; Plagiotropy; Linguistic, intermedial and intersemiotic translation; Code and text translation; Generative literature and emulations of historic electronic literature; Re-readings and interpretations of previous works; How these activities expand our understanding of literature and textuality; Performances addressing linguistic reflexivity and their engagement with translation, broadly understood, i.e., as a transcoding mechanism involving exchange in and across media, languages and cultures.

25 março 2017

Diário de Notícias Madeira: «Obra de António Aragão ainda surpreende»

Diário de Notícias Madeira
Quinta-feira, 23 de Março de 2017
Jornalista Paula Henriques

Obra de António Aragão ainda surpreende

Rui Lopes sai em defesa da obra do escritor e poeta madeirense António Aragão

Rui Lopes é o director artístico do espectáculo de teatro ‘Textos do Abocalipse’, a partir do livro homónimo do autor madeirense António Aragão. Vai estrear em Santarém, no dia 1 de Abril.

Porque pegou nestes ‘Textos do Abocalipse’? Eu descobri o Aragão em 92, numa aula do Alberto Pimenta que foi meu professor na faculdade. E a partir daí fui investigando, fui procurando sempre e fui lendo. E agora nesta última fase tenho colaborado com o Teatro Sá da Bandeira aqui em Santarém, especialmente desde que o Pedro Barreiro é o director artístico, e já tínhamos comentado várias vezes que há uma série de nomes que, vai-se lá saber porquê, não aparecem. Não aparecem nas agendas culturais, não são muito citados, não são muito referenciados. E um desses nomes é precisamente o António Aragão. No conjunto daquela geração que passou pela poesia experimental, pela poesia concreta, visual, acaba por ser, se calhar, um dos nomes - não é o único obviamente – mas é um daqueles que na minha opinião são mais injustiçados, talvez até pela dimensão da obra.

E a escolha deste livro de contos? Há um lado pessoal porque foi o primeiro livro que eu li do António Aragão. Foi o tal livro que o Alberto Pimenta mostrou na aula. Foi precisamente no ano em que este livro saiu, faz 25 anos. E é um dos livros que lido após estes anos todos, eu diria que é um livro ainda bastante fresco, é um livro ainda com uma vitalidade muito forte, não é um livro datado. É um livro que quer a nível estilístico, quer a nível temático, relido agora, ainda surpreende.

O desafio foi grande, em termos de adaptação ao palco? A ideia inicial e que de alguma forma não foi adulterada, era um conceito relativamente simples, que era como se estivéssemos a fazer uma reedição do livro em palco, numa linguagem diferente, que é a linguagem do palco, das artes performativas, mantendo a ordem original dos textos, respeitando a autonomia de cada, ao mesmo tempo tentando integrá-los num espectáculo que conseguisse encontrar a linha, o tom comum, que unifica todos estes textos e com destaque para o próprio texto. É, será, se tudo correr bem, um espectáculo que tem o texto como elemento principal, portanto não tanto a acção. Alguns contos serão mais dramatizados do que outros, há soluções diferentes, há várias soluções que vão ser exploradas, tendo em conta também o caracter específico de cada conto.

A adaptação é sua? Em sentido estrito, nem podemos falar propriamente adaptação. Há uma adaptação que é de um meio, de um livro para um espectáculo. Mas não há aquela dramaturgia clássica de um texto narrativo para um texto dramático. Respeitamos o texto exactamente como ele está. De alguma forma o que vai acontecendo não é exactamente uma ilustração do texto, mas é explorar um bocadinho tudo aquilo que o texto sugere e explorar formas diferentes de dizer o texto, de trazer o texto para a frente do espectáculo.

A companhia é residente no Sá da Bandeira? Não. O Teatro não tem uma companhia residente. A nível de produção, o que tem acontecido é tem havido produções que partem do teatro, ou que pelo menos têm o teatro como base de suporte, de apoio, mas que de alguma forma conseguem congregar agentes artísticos que nalguns casos estavam um bocadinho mais dispersos e que agora com alguma frequência se reúnem, se juntam e descobrem interesses comuns, descobrem referências comuns e ao fim de algum tempo começam a ter ideias e fazem espectáculos e propõe espectáculos. Eu sigo um bocadinho esta linha que é uma linha ao mesmo tempo um bocadinho fluída, sem uma estrutura rígida, mas ao mesmo tempo com o Teatro, a proporcionar esse suporte, quer ao nível técnico, quer ao nível de produção, de montagem. E foi um bocadinho nesta linha que este espectáculo surgiu. Eu tive a ideia inicial, o conceito original é meu.

A encenação também é sua? A encenação é partilhada. O que eu assumo aqui é o conceito original e há três contos que são encenados por mim. Depois cada um dos outros contos é encenado por uma pessoa diferente.

Tudo dentro do mesmo espectáculo. Exactamente.

E quantos actores levam os ‘Textos do Abocalipse’ a palco? São três actores, eu empresto também a minha humilde voz a um dos textos e uma das encenadoras também faz uma perninha, também aparece.

Quem são os actores? Joana Santos, Luís Coelho e Carolina Lopes. Cada um deles encena um dos textos. Depois o Pedro Barreiro encena um outro texto e a Silvana Ivaldi encena outro texto.

Há possibilidade e interesse em viajar para outros palcos? Interesse há. Possibilidade poderá também ocorrer. Neste momento os nossos planos são a estreia no dia 1 com espectáculo único. A partir daí, logo vemos. Aquilo que estas estruturas têm de vantajoso, depois também têm a contraparte, que é a desvantagem de juntar depois estas pessoas todas à volta de uma agenda que seja comum. Há essa dificuldade, mas é sempre possível, o espectáculo não vai ter uma estrutura muito pesada a nível de produção, a nível de montagem, é relativamente fácil pô-lo a circular.

Há interesse em vir à Madeira? Gostaríamos muito, é uma hipótese que nos agradaria bastante.

O Rui Lopes é um professor com uma paixão pelo teatro, ou um homem do teatro com gosto pelo ensino? Profissionalmente eu sou professor e sou tradutor. E agora a partir do dia 18 [Março] autor, agora publicado. O teatro aparece inicialmente como uma paixão extraprofissional que acabou por ser incorporada também na dimensão profissional, depois de ter feito alguma formação na área. Durante alguns anos leccionei oficina de teatro. Essa experiência deu origem a um grupo de teatro juvenil, formado aqui em Santarém, fui quase obrigado pelos meus ex-alunos que queriam continuar a fazer teatro. O grupo durou oito anos sempre com actividade regular. Todos os anos participámos no projecto Panos da Culturgest, criámos espectáculos nossos, foi um grupo com uma actividade ainda bastante, para a dimensão que tinha e para o carácter que tinha, de grupo juvenil, foi um grupo com muita actividade. Entretanto o grupo acabou, por variadíssimas razões, porque já estava a chegar à altura de acabar. E a partir daí, tenho feito projectos destes. Ainda em Outubro estreámos uma adaptação de ‘A Menina Júlia’, do Strindberg. O Pedro Barreiro, no ano passado, convidou-me para orientar um laboratório de criação teatral no Teatro da Bandeira que depois também deu origem a um espectáculo. Digamos que extraprofissionalmente vou sempre estando ligado ao teatro de uma forma ou de outra.

E criar uma companhia? De vez em quando pensamos nisso. Mas ao mesmo tempo agrada-nos um bocadinho esta semianarquia de nos juntarmos quando nos apetece e de podermos desenvolver um projecto que é prensado com a mesma seriedade que pensaríamos se tivéssemos uma companhia. É uma hipótese.

Riqueza da Linguagem

‘Textos do Abocalipse’ tem várias mensagens nas linhas e entrelinhas, a vários níveis. “Uma delas tem a ver, e o próprio título remete para essa leitura, que é a revelação de momentos da nossa pequena humanidade, momentos do quotidiano, dos medos, da incapacidade de diálogo, da dificuldade de comunicação, e ao mesmo tempo a banalidade dessa comunicação, aliás um tema muito presente na obra do Aragão.” mas não é única, o grupo identificou outra menos consensual. “É uma linha de um certo humor negro quase absurdo, que remete precisamente para essa linha, por exemplo do teatro do absurdo, que de alguma forma dá um tom que se vai manifestando ao longo dos oito textos de formas diferentes, em graus diferentes. E simultaneamente também um outro aspecto muito importante, que é a própria carga poética do texto. Em todos os textos há uma exploração poética da linguagem, às vezes para jogar com essa banalização da linguagem, para expor essa banalização da linguagem mas depois, com muita frequência também, alternadamente, para aproveitar as potencialidades poéticas da linguagem”, refere o professor.


17 março 2017

Diário de Notícias Madeira: «‘Textos do Abocalipse’ escolhidos por Rui Lopes. Obra de António Aragão em espectáculo no Teatro Sá da Bandeira em Abril»

Diário de Notícias Madeira
Quarta-feira, 15 de Março de 2017
Jornalista Paula Henriques

‘Textos do Abocalipse’ escolhidos por Rui Lopes

Obra de António Aragão em espectáculo no Teatro Sá da Bandeira em Abril

António Aragão, à esquerda, com o escritor Alberto Pimenta. Foto Arquivo Global Notícias

Estreia no dia 1 de Abril em Santarém, no Teatro Sá da Bandeira, um espectáculo de teatro criado a partir do livro ‘Textos do Abocalipse’ (1992), de António Aragão, madeirense pioneiro da poesia experimental em Portugal. O trabalho com o mesmo título é levado à cena através de uma parceria entre o encenador Rui Lopes e Pedro Barreiro, director artístico e programador deste espaço cultural.

António Aragão nasceu em 1921 em São Vicente e faleceu em 2008 no Funchal, sendo um dos ilustres autores madeirenses, com obra não apenas no domínio da literatura – escreveu poesia, ficção e para teatro, mas também da pintura. O autor de ‘Textos do Abocalipse’ fez formação em Lisboa, Coimbra, Paris e Roma, antes de assumir a direcção do Arquivo Distrital do Funchal, tendo deixado uma vasta obra, onde sobressai o jogo de palavras que criava.

Sobre o livro de contos em questão, escreveu Thierry Proença dos Santos na Revista Margem 2, Número 28: “Se do livro se pode tirar uma lição e aplicá-la aos dias que correm será, sem dúvida, a do exercício permanente da crítica, da inventividade e do inconformismo que o texto exemplifica”.

A sessão em Santarém será seguida de uma conversa sobre ‘poesia irreverente e de resistência’ em Portugal.

in Diário de Notícias Madeira, 15 de Março de 2017

Teatro Sá da Bandeira: Textos do Abocalipse, de António Aragão



Teatro Sá da Bandeira
Rua João Afonso nº7
2000-055 Santarém

Textos do abocalipse
de António Aragão

Sinopse
Textos do abocalipse, publicado em 1992, é um livro de António Aragão que contém revelações extraordinárias sobre uma estranha espécie animal (e que deve ser lido várias vezes e com muita atenção).
Textos do abocalipse, em 2017, é um espetáculo que apresenta os oito textos do livro de António Aragão, pela sua ordem original, do princípio ao fim.

Ficha técnica
Texto: António Aragão
Conceito original: Rui Lopes
Criação cénica: Carolina Lopes, Luís Coelho, Joana Santos, Pedro Barreiro, Ricardo B. Marques, Rui Lopes, Silvana Ivaldi e Tiago Correia.
Interpretação: Carolina Lopes, Luís Coelho, Joana Santos, Rui Lopes (voz) e Silvana Ivaldi.
Desenho de luz e som: Ricardo B. Marques e Tiago Correia
Conceção gráfica da folha de sala: Fernando Brito
Texto introdutório (prefácio): Alberto Pimenta

1 de abril de 2017 - Teatro Sá da Bandeira – Santarém
21.30
Duração: 120 minutos (aprox.)
Preço: 3 euros
Classificação etária: maiores de 12


Rui Lopes (1971)
Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas – Estudos Portugueses/Ingleses, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Mestre em Teoria da Literatura, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Professor do Ensino Básico e Secundário, desde 1994. 
Traduziu obras de Ambrose Bierce (Tinta da China), Charles Bukowski (Antígona), Peter Brook (Orfeu Negro), dedicando-se, nos últimos anos, à tradução de livros para crianças na coleção Orfeu Mini (Oliver Jeffers, Peter Newell, entre muitos outros).
É autor, com a ilustradora Renata Bueno, do livro Aqui há gato, a publicar em março de 2017 na coleção Orfeu Mini.
Fundou o grupo de teatro AN!MAL (2007-2015), em Santarém, com antigos alunos da disciplina de Oficina de Teatro, tendo encenado diversas peças, sobretudo no âmbito do projeto Panos, da Culturgest. Posteriormente, dirigiu o Laboratório de Criação Teatral, no Teatro Sá da Bandeira, que culminou com a apresentação do espetáculo Instalação. Em 2016, apresentou o espetáculo MISS, a partir de Menina Júlia, de August Strindberg, reposto em 2017.

Livro da autoria de António Aragão adaptado ao Teatro


Num trabalho original de Rui Lopes, em colaboração com Carolina Lopes, Luís Coelho, Joana Santos, Pedro Barreiro, Ricardo Marques, Silvana Ivaldi e Tiago Correia, foi adaptado ao Teatro o Livro da autoria de António Aragão, Textos do Abocalipse.
A peça de teatro, em forma de homenagem a António Aragão, reúne os 8 textos do livro, mantendo a sua ordem original.
Subirá ao palco no dia 1 de Abril de 2017, no Teatro Sá da Bandeira, em Santarém.

António Aragão na Conferência ELO'17 «Electronic Literature: Affiliations, Communities, Translations»


A ELO - Electronic Literature Organization está a organizar a conferência «Electronic Literature: Affiliations, Communities, Translations», a ter lugar este ano no Porto, entre 18 e 22 de Julho. Tendo como Chair Rui Torres (Universidade Fernando Pessoa) e Sandy Baldwin (RIT), a edição deste ano pretende ser um espaço de debate sobre intercâmbios, negociações e movimentos no campo da literatura eletrónica. A ELO Conference é um evento incontornável nesta área de investigação. É a primeira vez que esta conferência é organizada em Portugal e, este ano, contará com a presença de mais de 250 académicos e artistas, oriundos de mais de 35 países.
A Obra de António Aragão será abordada na sua condição de pioneira no âmbito da Poesia Experimental Portuguesa.
Website oficial da conferência:

Obras de António Aragão em exposição na Galeria ZDB (Lisboa) até 15 de Abril

in Observador, 12/02/2017:
Jornalista Joana Emídio Marques
Redescobrir a Poesia Experimental Portuguesa na ZDB


Dois cartazes de António Aragão, Operação 1 (1967), o mais importante autor deste movimento

Na Lisboa do fim dos anos 50 entre Surrealistas, Abjecionistas e Neorealistas, de costas voltadas para o Orfeu de Pessoa e fora das portas do Café Gelo, surgia aquele que foi, e é, o mais marginal e o menos conhecido movimento literário português do século XX: a Poesia Experimental.

Não obstante ter congregado nomes como Herberto Helder, Alexandre O’ Neill, Ana Hatherly, António Barahona, E.M Melo e Castro ou Luiza Neto Jorge, aquele que ficou conhecido como o PO-EX, foi sempre olhado com a paternalista condescendência de quem observa uma brincadeira de crianças. E se no Brasil a poesia concreta tem, até hoje, uma forte pujança e ganhou fôlego com as novas tecnologias, em Portugal este género de obras tem poucos seguidores. Assim, a exposição VERBOVOCOVISUAL, na Galeria Zé dos Bois, no Bairro Alto, em Lisboa (inaugura a 12 de fevereiro), promete ser uma pedrada no charco. São quase uma centena de obras, realizadas entre 1960 e 1975, happenings, conferências, lançamentos de livros, performances para ver ao longo dos próximos dois meses e redescobrir a génese deste projeto artístico que durante mais de uma década colocou Portugal na vanguarda da poesia.

Para as 17 horas do dia 12 de Fevereiro, está marcada uma reencenação do happening “Concerto e Audição Pictórica”. Este concerto aconteceu um dia depois da inauguração da primeira exposição do movimento, em 1965, e será agora recriado pelos poetas e músicos Américo Rodrigues, António Poppe, Rafael Toral, Nuno Moura, Lula Pena, entre outros.

“A Poesia Experimental tinha um amplexo de liberdade, de rutura e uma força criativa verdadeira, do tempo em que o pão se fazia com boa farinha. Eles criaram uma relação de agitação de inquietação com o leitor, com o espectador e acredito que essa inquietação faz a falta hoje. A PO-EX tinha um forte carácter político mesmo que isso não fosse tão óbvio como era o Neorealismo”, afirma Natxo Checa, o curador da exposição, que quer chegar a um público alargado, que não é só o público da poesia ou da música mas que é o público diferenciado da ZDB. “Esta é uma exposição histórica, não espero menos do que 50 pessoas por dia”, diz, ainda.

PO-EX: a poesia como arte total

Esta ambiguidade, indefinibilidade e polivalência do real são testemunhadas, no plano da representação estética, pela experimentação e o encontro sucessivo, desajustamentos e ajustamentos entre a imaginação e a realidade (…) Trata-se de uma regra tradicional que a tradição esquece, quando perde o dinamismo sobre que assenta. Porque a tradição é um movimento. Em principio não existe nenhum trabalho criativo que não seja experimental…”Herberto Helder, 1964
Este excerto pertence ao editorial do primeiro número dos Cadernos de Poesia Experimental, de 1964, a primeira publicação dedicada a este movimento e que é organizado por Herberto Helder em conjunto com António Aragão. Não tendo nunca havido um manifesto, este texto, que pode ser visto e lido na ZDB, traça as ambições do PO-EX: contrariar a estereotipização do poder criativo operada pelo cânone literário e, como acrescentará Ana Hatherly “pelos mitos enraizados no meio literário português, como a verdade, o talento, a inspiração”.

O movimento rejeita o psicologismo , o projeto nacionalista órphico, o sentimentalismo, as regras da métrica e da gramática e aproxima-se do movimento da poesia concreta brasileira iniciado no início da década de 50 pelos irmão Haroldo e Augusto Campos, Décio Pignarati, Pedro Xisto. Estes autores também estão representados na VERBOVOCOVISUAL, tal como Pierre Garnier, Henri Chopin, Ian Hamilton Finlay, John Furnival, Ken Cox, Bob Cobing, dos movimentos da poesia experimental da Alemanha, França e Inglaterra.

A Poesia Experimental aproximava-se do matemático e do maquínico, dos algoritmos mas também recuperava os milenares pictogramas, hieróglifos, anagramas. Letras, notas musicais, onomatopeias, filmes, grafittis, banda-desenhada, ready-mades, escultura, cartazes. Era, enfim, uma “máquina de emaranhar paisagens”, retomando o titulo de um poema de índole experimental de Herberto Helder. Resumindo, nem sempre podia estar contida num livro, precisava das ruas, precisava do corpo dos autores, aspirava a ser não apenas um ato intelectual, uma fruição burguesa, mas uma experiência corpórea, sensorial total. Escreve Ana Hatherly:

Tratava-se de um acto de rebeldia contra o status quo, um questionar profundo da razão de ser do acto criador. Uma arte que assume ser sempre metalinguagem e uma reflexão sobre o código(…) pois a literatura de hoje reflete e ilustra a decadência da classe dominante, que dela se apropriou para uso rotineiro e institucional…”
Apesar de o movimento só aparecer formalmente nos anos 60, a verdade é que já nos anos 50 surgem trabalhos que se aproximavam ao que estava a ser feito pelo Movimento da Poesia Concreta no Brasil. Um dos primeiros é a obra Espelho Cego de Salette Tavares (1957), autora que viria a ser uma das mais profícuas deste movimento com os seus “jogos gráficos de escrita, de desconstrução de palavras, repetição e omissão, transformação da sintaxe, brincadeiras com letras soltas, que geram novos e provocatórios significantes e significados”, como escreve Adelaide Ginga do MNAC. Mas há também trabalhos de José-Alberto Marques, de 1958, de Alexandre O’Neill, de 1960.

Ao longo de mais de uma década o PO-EX viria a juntar poetas de passagem como Herberto Helder, António Barahona, Cesariny, Ângelo de Lima, Ramos Rosa que depois derivaram para outras formas poéticas, mas também nomes que se confirmaram dentro do PO-EX, entre eles António Aragão, E.M Melo e Castro e Ana Hatherly, Liberto Cruz (Álvaro Neto), Abílio-José Santos, Fernando Aguiar e Silvestre Pestana. Todos eles representados agora na ZDB.

Apesar de ter perdido a força combativa depois de 1975, e de ter poucos seguidores o PO-EX teve ainda contribuições importantes nas performances de Alberto Pimenta e a VERBOVOCOVISUAL homenageia também este autor e outros devedores do experimentalismo como os Calhau!, Alexandre Estrela, B-Fachada, Manuela Pacheco e Sei Miguel.

Como escreve Rui Torres, um dos autores com mais investigação desenvolvida sobre a Poesia Experimental Portuguesa e cujo trabalho pode ser visto aqui: “A poesia experimental continua a ter uma posição marginal no mercado literário”. Os seus formatos anteriores e atuais escapam sempre ao convencionalismo, hibridizam os géneros, procuram transgredir a gramática enquanto forma de poder sobre a linguagem.

VERBOVOCOVISUAL

Propondo um percurso expositivo cronólogico, VERBIVOCOVISUAL percorre os antecedentes da poesia experimental através de bibliografia nacional e internacional publicada entre meados dos anos 50 até 1975. As publicações coletivas que nomearam a poesia Experimental: PO-EX 1 e 2, Operação 1 e 2 e Hidra 1 e 2 expostas nas paredes cruzam-se com “Ideogramas” de Ernesto de Melo e Castro, obra fundamental do concretismo literário português. Definem ainda o espaço os filmes “Roda Lume” (1968) de Melo e Castro e “Música Negativa” (1977) de Ana Hatherly, objetos poemáticos e espaciais de António Aragão ou Salette Tavares, e outros trabalhos originais em formatos diversos incluindo cartazes, pintura, desenho, serigrafia, folhas de sala, etc.

O percurso é encerrado com a reposição da exposição “Concepto Incerto”, que Ernesto M. de Melo e Castro apresentou em 1974 na livraria Bucholz em Lisboa.

VERBIVOCOVISUAL: Poesia concreta e experimental portuguesa de 1960 a 1975 está patente na ZDB, de 12 de fevereiro a 15 de abril, Segunda a Sábado, 19h00 às 23h00. A Curadoria pertence a Natxo Checa. Entrada: 2 euros